Carlos Walter Porto Gonçalves, presente!

09/09/2023 15:00

O Prof. Dr. Carlos Walter Porto Gonçalves deixou seu corpo físico no dia 06 de setembro.

Carlos Walter estava em Florianópolis, na UFSC, como professor visitante, junto ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar de Ciências Humanas. Contudo, sua vontade de lecionar o levou de volta até aulas de graduação na Geografia da UFSC em 2022. Era sua paixão estar entre os jovens atentos à sua experiência como docente, como pesquisador e profundo conhecedor das questões socioambientais e das disputas dos territórios na América Latina.

Claro, havia muito o que falar!

Sua luta pela Amazônia, chamou a atenção ainda na década de 80 e 90 do corpo docente da UFSC, especialmente do Prof. Dr. Luiz Fernando Scheibe, Maria Dolores Buss e Sandra Furtado. Mais recentemente também a ligação com o trabalho de outros pesquisadores como os doutores Arthur Nanni, Luciano Augusto Henning e Marcos Aurélio Espindola. Iniciou-se então uma amizade que trouxe Carlos diversas vezes ao estado de Santa Catarina. Nesta última década em especial, para um pós-doutoramento e mais recentemente para atuar como professor visitante.

Ao longos do tempo o prof. Carlos Walter influenciou diretamente muitos jovens docentes, doutorandos, mestrandos, graduandos e graduados em Geografia e em outras áreas do conhecimento. E em especial, muitos estudantes que passaram pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Análise Ambiental, onde seus livros, palestras e conversas deram o rumo para muitos trabalhos.

Assim, sua ligação com a história do LAAM, bem como sobre a produção do laboratório, nas teses, dissertações e trabalhos de graduação, extrapola sua orientação direta, e sua participação nas diversas bancas de defesa. Muitas e muitos leram seus livros, seus artigos, suas ideias. Mais pessoas ainda o assistiam nas conferências, palestras, aulas, rodas de conversa, nos cafés.

Sua emoção em estar entre os jovens era marcante. Suas ideias sempre em movimento. Carlos sempre foi um decolonial, antes mesmo do termo surgir na academia! Sua postura política, seus discursos, seus textos, atestam um geógrafo que estava comprometido em ser um andante pelas terras, pelos territórios, para ouvir e dialogar com montanheses, ribeirinhos, seringueiros, sem terra, pescadores, acadêmicos, povos indígenas, enfim, comunitários de toda a América.

Ao finalizar seu livro “Os (des)caminhos do meio ambiente” (1989), Carlos escreve na última página

“A luta contra a desigualdade social não é uma luta pela igualdade no sentido de que todos os seres humanos são iguais. Ao contrário: o que os seres humanos têm de igual é a sua diferença. É no plano da polis, isto é, da política que haveremos de instituir condições iguais para que as individualidades floresçam. A autonomia de cada ser humano se desenvolve no seio da sociedade, portanto, todos devem ser igualmente livres para estabelecer as regras, as normas, as leis. Não foi a Biologia quem distinguiu homens para pensar, planejar e decidir e homens para fazer. Foi o terreno movediço, tenso e contraditório da História que os instituiu assim. E a História não é o passado. Ela se dá aqui e agora e cabe a cada um de nós decidir seus (nossos) destinos”. 

 

 

Professores Carlos Walter Porto-Gonçalves e Luiz Fernando Scheibe (UFSC) no Seminário Meio Ambiente e Sociedade, em 2019.

Carlos Walter Porto Gonçalves, 1949-2023!

Carlos Walter, presente!